quinta-feira, dezembro 07, 2006

De alguns animais domésticos de que me servi para me estimular na prática da virtude

O Espírito Santo disse-me: Vai, ó preguiçoso, ter com a formiga, observa seu proceder e torna-te sábio (Pr. 6, 6), e eu não aprenderei somente da formiga, senão também do galo, do burro e do cão. Quis dedit gallo intelligentiam? (Job 38,36*:Quem deu ao galo inteligência?) Gallus cantavit. (Mc 14, 68: o galo cantou.)
[*Quem pôs a sabedoria nas nuvens, e a inteligência no meteoro?]
O galo
1º) O galo chama-me, e eu como Pedro, devo recordar-me de meus pecados para chora-los.

2º) O galo canta e nas horas do dia e da noite. Eu devo louvar a Deus todas as horas do dia e da noite. E, além do mais, devo exortar aos para que o façam.
3º) O galo de dia e de noite vigia a sua família. Eu Devo vigiar dia e noite as almas que o Senhor me confiou.

4º) O galo, ao mais pequeno rumor ou apreensão de perigo, dá voz de alarme. Eu devo fazer o mesmo: avisar as almas ao mais pequeno perigo de pecar.
5º) O galo defende a sua família quando o gavião ou outro animal ou ave de rapina vem para ataca-la. Eu devo defender as almas que o Senhor me confiou dos gaviões, de erros, vícios e pecados.

6º) O galo é muito generoso; mal encontra alguma coisa que possa servir de alimento, quando, privando-se dela, chama as galinhas para que o colham. Eu devo abster-me de regalos e conveniências e ser generoso e caritativo com os pobres e necessitados.

7º) O galo antes de cantar move as asas. Eu antes de pregar devo mover e bater as asas do estudo e da oração.

8º) O galo é muito fecundo. Eu devo sê-lo espiritualmente, de modo que possa dizer com o Apóstolo: Per evangelium ego vos genui (Cor. 4, 15: fui eu que vos gerei em Cristo Jesus pelo Evangelho.)


O burro
Ut jumentum factus sum apud te, et ego semper tecum. (Sal. 72, 32: Como jumento estive ao pé de ti; e estive sempre contigo)
1º) O burro é o animal mais humilde por natureza; o seu nome é de desprezo; a sua habitação é o lugar mais humilde y mais baixo da casa, a sua comida é pobre, e pobre são todos os seus equipamentos. Eu também devo procurar que a habitação, comida e vestido sejam pobres, a fim de procurar a humilhação e o desprezo dos homens, e assim poder alcançar a virtude da humildade, já que por natureza corrompida sou soberbo e orgulhoso.
2º) O burro é o animal muito paciente; leva as gentes e as cargas e sofre os golpes sem queijar-se. Eu também devo ser muito paciente em levar as cargas de minhas obrigações e sofrer com resignação e na condição de manso as penas, trabalhos, perseguições e calúnias.
3º) A Santíssima Virgem Maria valeu-se do burro quando foi a Belém para dar a luz seu filho Jesus, e quando fugiu para o Egipto, para libertar-se de Herodes. Eu também me ofereço a Maria Santíssima para levar com gosto a alegria a sua devoção e pregar nas suas excelências, nas suas alegrias, e em suas dores e ademais meditarei dia e noite nesses santos e adoráveis mistérios.
4º) Jesus valeu-se do burro quando quis entrar triunfante em Jerusalém. Eu também me ofereço de bom grado a Jesus, por si se quer valer de mim para entrar triunfante dos inimigos: mundo, demónio e carne nas almas convertidas e nas populações; com o bom entendimento que as honras e os elogios que me pagam, pensarei que não são para mim, que sou o burro, senão para Jesus, cuja dignidade, ainda que indigno, levo.

O cão
Canes muti qui non valuerunt latrare (Is. 56, 10:cães mudos incapazes de latir)
1º) O cão é um animal tão fiel e tão constante companheiro de seu amo, que nem a miséria, nem a pobreza, nem os trabalhos, nem outra coisa alguma é capaz de faze-lo separar de seu dono. O mesmo devo eu fazer; tão fiel, tão constante hei de ser no serviço de e amor de Deus, que possa dizer como o Apóstolo que nem a morte, nem a vida, nem outra coisa alguma possa separar-me.
2º) O cão é mais leal que um filho, mais obediente que um criado e mais dócil que uma criança. Não somente faz voluntariamente o que o amo lhe manda, senão que presta atenção à cara do amo para conhecer sua inclinação e vontade, a fim de cumprir sem esperar que o mande, o que faz com a maior prontidão e alegria, e ainda se faz participante dos afectos do amo; por maneira que é amigo dos amigos do amo e inimigo de seus inimigos. Eu devo praticar todas estas belas qualidades no serviço de Deus, meu querido Amo. Sim, de bom grado farei o que me mandar, estudarei a sua vontade para cumpri-la, sem esperar que me mande; executarei com prontidão e alegria tudo o que disponha por seus representantes que são meus Superiores. Serei amigo dos amigos de Deus e tratarei como Ele disponha, ladrando contra as suas maldades para que desistam delas.
3º) O cão vigia de dia e pela noite redobra a sua vigilância; ele guarda a pessoa do amo e todas as coisas que ao amo pertencem; ele ladra e ataca a quantos conhece ou prevê que podem prejudicar o seu amo e seus interesses. Eu devo procurar vigiar continuamente e declamar contra os vícios, culpas e pecados, e contra os inimigos da alma.
4º) O maior gosto que o cão tem é estar e andar na presença do seu amo. Eu procurarei andar sempre com gosto e alegria na presença de Deus, meu querido Amo, e assim não pecarei nunca, e serei perfeito, segundo aquela palavra: Ambula coram me, et esto perfectus (Gen. 17,1: Anda em minha presença e sê íntegr0;.)
[Stat Veirtas, San ANTONIO MARÍA CLARET, “Escritos autobiográficos”, (2006). De algunos animales domésticos de que me he servido para estimularme a la práctica de las virtudes, em: http://www.statveritas.com.ar/Santos/SAMClaret-02.htm, acedido a 08/12/2006]

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